Vamos falar de corridas?

Se há uns tempos a minha vontade de correr era mais ou menos a mesma de sachar uma terra de batatas, hoje, quase que troco uma ida às compras por uma bela corrida. Quer dizer, também não é preciso exagerar. Mas sinto, realmente, que ganhei um certo gostinho pelas corridas. Diria mesmo que tornou-se viciante. O meu pai até já perguntou se andava a preparar-me para alguma competição. Bem, só se for a pessoal, que vale tanto ou mais que qualquer outra.

Comecei a ganhar-lhe o gosto em Julho e Agosto, mas com as férias dos meus fieis companheiros e o aproximar do casamento e as mil e uma coisas a ultimar, as corridas ficaram em águas de bacalhau. Já se sabe que parar é morrer e voltar ao ritmo não foi fácil. Em Outubro corri qualquer coisa, mas foi no mês passado que, e passo a expressão, dei-lhe forte. Não corri muito. Corri quase nada. Não fiz tempos brilhantes. Mas para mim que ficava de língua de fora só de pensar em ir correr, é épico. No fim de cada corrida sentia-me sempre como se tivesse ganho uma medalha olímpica. Só pelo simples facto de ter vencido a ratazana-fraca-e-preguiçosa que há em mim. Pelo facto de ter trocado o conforto da casa pelo frio gelado da rua. Pelo facto de ser forte e não ceder à tentação do sofá, da lareira e da manta. Pela felicidade de superar-me e pela capacidade de sair da zona de conforto. Por isto e muito mais, cada corrida de Novembro foi uma grande vitória pessoal.

Muitos podem banalizar, achar que não fiz nada de extraordinário ou, até, que apenas cumpri com o que me propus, logo, não fiz mais do que a minha obrigação (de repente lembrei-me da advogada-armada-ao-cagalhão que, há umas semanas, largou aqui umas postas de pescada). Mas as pequenas conquistas fazem-me feliz. Eu sou assim. Gosto de valorizar tudo o que alcanço com esforço e dedicação, até mesmo as coisas mais pequenas. Sou feliz assim. Porque não olho a vida como uma obrigação, mas como uma força de vontade. Porque tudo na vida depende de nós próprios e da nossa força de vontade. Sem ela não somos nada. Porque não valorizar?

Nisto das corridas, ter alguém que nos motive e que puxe por nós é meio caminho andado para conseguirmos ir mais além. E é bem mais fácil dizer "NÃO" ao sofá, diga-se de passagem. Se hoje deixei a lontrice de lado devo-o muito ao E. e à M., os meus fieis companheiros de corrida, que reconheceram-me potencialidades e nunca me deixaram desistir. Nem o meu ritmo de tartaruga os fez perder a fé em mim. Eles têm aquela palavra que preciso ouvir quando já estou a dar as últimas, mesmo à beira de me atirar para o chão.

Correr com companhia é realmente muito motivador, principalmente, se estiverem num nível mais avançado que nós. Depois, há um pequeno-grande pormenor... O acto de ir correr sozinha exige uma força de vontade muito, mas muito maior. E porquê? Porque não tens ninguém a encorajar-te, porque não tens ninguém à tua espera, porque não te comprometeste com ninguém, logo, não tens o peso da "falha" a atormentar-te, e se deres parte de fraca e se desistires ninguém vai dar por isso. Foi, precisamente, quando fiz duas corridas sozinha, por minha livre e espontânea vontade, sem ninguém a dizer "andaaaaa, não sejas fraca" que parei e pensei "epaaaa, ou estás doente ou estás a gostar mesmo dito".

Se custa? Custa. Se dá vontade de parar, encostar a um canto e esperar que alguém venha rebocar? Dá. Se maldigo da minha vida o caminho quuuuuase todo? Maldigo. Se profiro umas quantas asneiras mentais mal avisto uma subida? Profiro. Se este frio que congela a alma é insuportável? É. Mas querem saber de uma coisa? Só custa mesmo ir, depois é para lá de espectacular. E nada paga aquela sensação final que não consigo traduzir em palavras.

Atenção que faltam três corridas que não foram contabilizadas pelo NikeRun, o que equivale a um total de 11 corridas e 59 kms.

Objectivos para Dezembro? Superar o mês de Novembro. Ultrapassar os 59 kms e tentar baixar o ritmo médio para baixo dos seis minutos por quilometro. Com o ambiente natalício que paira no ar, as luzes, as músicas de Natal na rua e com o olhar atento do maior Pai Natal do mundo, vai ser canja-laranja (agora dava jeito ter aqui os emojis do telemóvel para pôr o braço de "força" :D).