No passado domingo cumpri mais um objectivo e realizei a minha primeira prova de trail. Quando comecei a partilhar o meu gosto pelas corridas aqui no blog e mesmo em conversa com amigos, ouvia sempre "tens de experimentar trail, é muito mais giro, vais ver que vais adorar" e blábláblá Whiskas saquetas.
Acontece que depois da Meia Maratona em Abril nunca mais lhe dei a sério nas corridas. Meteram-se as mudanças, meteram-se outras prioridades e as corridas ficaram quase como banho-maria. Já com a vida mais organizada retomei, mas muito soft, uma vez que o meu principal objectivo do momento não combina muito com corrida. Mas uma vez por semana tem de ser, só para matar o "bichinho".
Nos entretantos, aparece a minha irmã com uma história de "ah e tal trail escutista e tens de ir e anda lá e não sejas "cortes"" e rebebebeu pardais ao ninho (sim, tenho uma irmã escuteira e muito chata).
Ora, sendo eu mais de estrada, com zero experiência em trail e com consciência de que são coisas diferentes, a minha primeira reacção ao convite foi "nem pensar". Mas lá me convenceram (fácil, eu?).
Nas ultimas duas semanas consegui companhia para treinar percurso de trail e só posso agradecer por isso. Deu para não ir "às escuras" e para ganhar gosto por algo diferente e mais exigente a que estava habituada. Chegado o dia e porque a vida prega partidas, o espírito/vontade não era o/a melhor, ponderei não ir, mas lá fui, afinal, não podia deixar ficar mal quem tanto me incentivou e deu força para participar. Com a "cabeça longe" tentei não me distrair muito no tempo e consegui um 13° lugar no meu escalão (de 22) e um 101° no geral (de 140). Não foi brilhante, mas valeu muito pelo esforço, pelo companheirismo e pelo espírito de entreajuda o qual agradeço bastante. E se formos a ver, a superação vale bem mais que os resultados.
Foi a minha segunda prova, a minha segunda maior distância percorrida (nem nos treinos para a Meia Maratona corri tanto) e é o meu segundo dorsal que vou guardar com todo o carinho e com todo o significado que tem.
Realmente, tinham razão, adorei a experiência e acho um máximo correr no meio do mato, por entre árvores e pinheiros, saltar valas de água e zonas de lama, agarrar-me aos ramos nas descidas mais complicadas ou descer a todo o gás nas mais simples. Enfim, respira-se natureza e apesar de requerer outro tipo de esforço, também parece dar um fôlego maior.
Correr para mim tem sido uma surpresa. Primeiro, porque odiava - odiava aquelas dores de burro infernais, odiava correr três quilómetros e já ir de língua a arrastar pelo chão, odiava as piiiiii das canelites, odiava sentir-me a arrastar o rabo nas subidas do demo, odiava TUDO -, segundo, porque pensava para comigo que raio de objectivo mais estúpido tem uma pessoa que sai de casa para correr por aí ao deus-dará com tanta coisa mais interessante e reconfortante para fazer.
Mas com a corrida aprendi que o impossível pode tornar-se possível. Aprendi a superar medos (no caso do trail, vou sempre com medo de encontrar uma cobra à frente ou esmagar um rato morto [sim, sou um bocado mórbida] e na prova em si, tinha receio de perder-me sozinha no meio do mato). Aprendi que apesar de todo o esforço, o prazer da satisfação final compensa tudo. Aprendi que ao passar a meta esquecemos todo o sofrimento anterior bem como todas as caralhadas mentalmente proferidas. Aprendi que o ser capaz de sair da nossa zona de conforto bem como a nossa persistência deixa-nos felizes e orgulhosas de nós mesmas. Aprendi que correr é viciante, talvez por ser um exercício de força de vontade e de superação de dificuldades que faz-nos querer ir mais além. Porque se fomos capazes de chegar até aqui, de certeza que somos capazes de muito mais. Depois, correr também é amizade, solidariedade e espírito de entreajuda. Posto isto, como não gostar?

P.S.: Vocês não sabem, mas aquele moço ali de rabicho (=P) já tinha acabado a prova há uns 40 minutos (ficou em 15º no geral), fez bem as contas, foi ao meu encontro (com algum pessoal a gritar "não, não, é ao contrário", ahahah) e acompanhou-me nos meus dois últimos quilómetros. Quem tem amigos assim, tem tudo. =))