Até hoje não sei o que é perder um familiar directo ou um amigo bastante próximo (que o diabo seja cego, surdo e mudo!!). O meu avô paterno faleceu bem antes de eu ser nascida e era bastante nova quando o meu avô materno partiu, para perceber realmente a dor do que estava a acontecer. Mas já vi partir pessoas conhecidas do meu meio, por alguma ligação aos meus pais ou a amigos meus mais próximos e, infelizmente, também já vi partir pessoas ainda bastante jovens com quem cheguei a partilhar alguns momentos. Apesar da ligação não tão próxima com estas pessoas é impossível não sentir um murro no estômago e sentir um pouquinho na pele a dor daqueles que lhes eram realmente próximos, principalmente, tratando-se de jovens e/ou de mortes inesperadas, no entanto, imagino que nunca será equiparável à dor de perder um filho, uma mulher, um pai, uma mãe, um namorado. Dor essa que desconheço e espero, espero mesmo não vir a conhecer tão cedo.
Ontem, quando vi a noticia sobre uma mulher morta a tiro em Oeiras através do Instagram da Cê e li o nome "Bárbara Varella Cid" fiquei completamente em choque. Não queria acreditar. Ainda não tinha almoçado, tinha acordado muito cedo para ir correr e tinha acabado de fazer uma sesta, mas qualquer preguiça que pudesse sentir passou num ápice. Pus-me automaticamente de pé e o meu cérebro só pensava "não pode ser, não pode ser, não pode ser, é a "minha Báá", não pode ser". Senti um aperto enorme no peito e fiquei num estado profundo de negação. Os meus olhos encheram-se de água e não consegui evitar que as lágrimas me escorressem pelo rosto.
A Bárbara era uma leitora assídua do blog. Das antigas. Também me seguia pelas redes sociais. Acompanhou-me nestes meus últimos quatro anos, em que tanto aconteceu. Mesmo nos meus períodos de ausência, ela estava sempre aqui. Trocámos muitas mensagens e até alguns e-mails. Trocámos fotos, trocámos ideias, partilhámos estados de espírito e algumas confidências do nosso dia-a-dia. A Bárbara tinha um carinho especial por mim. Fazia questão de o dizer, mas não precisava porque eu sentia-o nas suas palavras. O seu aniversário era um dia anterior ao meu. Não, nunca a conheci pessoalmente, mas tinha-a como uma amiga. Virtual, mas talvez mais real e mais verdadeira comparando com algumas pessoas que já passaram na minha vida. Porque há pessoas que são simplesmente feitas de luz. E ver as mensagens de pesar que vão sendo deixadas na sua página pessoal do Facebook, mostra-me que não estava rigorosamente nada enganada em relação à pessoa que conheci virtualmente e à imagem que criei dela: sorriso franco, genuinamente doce e simpática e de uma alegria contagiante.
Sinto que a Bárbara era daquelas pessoas difíceis de não se gostar e que deixará imensa saudade e um vazio enorme naqueles que lhe eram próximos. Aquele será o sorriso que vou guardar com carinho na memória.
Já li e reli as nossas conversas vezes sem conta. Continuo aqui com um nó no coração e a desejar que fosse tudo mentira. Mas não é. A Bárbara tinha um marido que amava, dois filhos lindos e ainda muito a fazer nesta vida. Pergunto-me como é que alguém tem coragem de ser tão cruel, tão frio, tão desumano ao ponto de ser capaz de cometer uma barbaridade destas. Todos os dias vemos noticias de pais a matarem filhos, filhos a matarem pais, namorados a matar namoradas, das formas mais variadas e inacreditáveis. Hoje mata-se por dá cá aquela palha. No que é que "nos" estamos a transformar?! É terrivelmente assustador.
Não podia deixar de escrever umas palavras sobre a Bárbara, a "minha Báá", neste que foi o espaço que nos uniu de alguma forma e que nos fez gostar uma da outra. Num dos seus últimos e-mails dizia-me "nunca imaginei ser possível criar uma ligação e laços fortes com alguém que, pessoalmente, não conhecemos mas... é possível". Sim, Bárbara, é mesmo possível. Da mesma forma que é possível chorar a perda de alguém que nunca chegámos a conhecer pessoalmente.
Já não vamos correr as duas, mas quem sabe se não o farei por ti.
Descansa em paz "minha Báá" ❤