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terça-feira, 28 de abril de 2015

Se já é duro perder um filho, como será perdê-lo e travar uma guerra em seu nome?

Angélico Vieira perdeu a vida, já lá vão quase quatro anos, mas nem por isso o seu nome descansa em paz. A sua mãe, passado tanto tempo, continua às voltas com a justiça, e este caso foi um dos assuntos discutidos, hoje, no programa da manhã da tvi.

Na altura, muito se especulou (demasiado até), aliás, como vem sendo habitual neste tipo de situações. O povo sempre gostou de mandar uns bitaites, mas a verdade é que ninguém podia afirmar com total conhecimento de causa se tinha acontecido isto ou aquilo. Se ia com velocidade ou não. Se tinha cinto ou não. Se conduzia com álcool ou não. Se o carro tinha problemas ou não. E por aí adiante.
Segundo as conclusões das autoridades, a viatura despistou-se na sequência do rebentamento de um pneu, onde seguiam a uma velocidade acima dos 200 km/h, o Angélico levava cinto e, segundo os exames toxicológicos, conduzia sem o efeito do álcool ou de qualquer droga.

Depois, há todo um mistério à volta do (maldito) BMW 635, se era emprestado, se Angélico era mesmo o proprietário, se o dito carro tinha problemas ou não. Muito sinceramente, eu acredito que sim, que o carro tinha problemas mecânicos, uma vez que as rodas dos carros não andam por aí a saltar fora assim, do nada, mesmo que o carro seguisse a alta velocidade, porque se estamos a falar de um carro topo de gama e de alta cilindrada, tem de ser feito para suportar essa mesma velocidade (se estivéssemos a falar de uma Renault 4L a 200 km/h, acredito bem que saltassem rodas, portas, janelas...TUDO).

Não quero com isto desculpar o actor/cantor, mas convém ter presente que a causa directa do acidente não foi a velocidade, mas sim o rebentamento do pneu. E agora vocês perguntam: então e se ele fosse a conduzir com menos velocidade (a aceitável), mesmo rebentando o pneu, será que as consequências não seriam menores? E agora eu pergunto também: então e se o pneu não rebentasse, se fosse feliz da vida à velocidade que o carro permitia, será que teriam tido o trágico acidente? "Ses" que não são nada perante a força do destino.

No meio disto tudo, há uma mãe que, para além de ter perdido o filho, tem de ter estômago suficiente para suportar todos os problemas que tem em mãos desde então, e para responder por todo este processo à volta do acidente. Uma mãe a quem é exigida uma indemnização de milhões de euros, como se isso trouxesse alguém de volta ou eliminasse as consequências físicas e psíquicas do acidente.
Se já é difícil perder um filho, como será ter de lutar em sua defesa? Como é que esta mãe poderá fazer o luto, se todos os dias é confrontada com a tragédia que roubou o seu único filho? Como?

Não sou mãe, mas sou suficientemente humana para perceber a imensidão da dor da perda de um filho, e é impossível ficar indiferente a estes casos e não tomar um pouquinho das dores. O Angélico é só mais um dos inúmeros jovens que já perderam a vida demasiado cedo. E isto faz-me pensar. Pensar nas razões da vida que a própria razão desconhece. E é em momentos como este que surgem todas aquelas perguntas para as quais nunca temos resposta, como por exemplo "porque é que isto foi acontecer?" e para os mais católicos "porque é que Deus quis que assim fosse?".
São situações como esta que me fazem acreditar no destino. Que, por mais voltas e voltas que a nossa vida dê, não dá para fugir ao que nos está destinado. E isto arrepia-me. Arrepia-me porque não sou daquelas que consegue viver o presente, apenas e só. Só consigo viver o presente a pensar no futuro, porque sempre me ensinaram que o futuro é uma consequência do nosso presente. E saber que o futuro não depende, apenas, de nós próprios, arrepia-me. Arrepia-me mesmo.
24-09-2013 15-51-22

22 comentários:

  1. Tive previlégio de poder conhecer o Angélico, estive com ele algumas vez nas visitas que fazia ao Norte. Era um doce de pessoa, a beleza exterior era pouca comparada com a interior. A morte dele ficará sempre marcada em mim, estava hospitalizada na altura e foi com choque que recebi aquela noticia. A velocidade era uma "paixão" dele sim, mas também só se sentava no banco de um carro conduzido por ele quem queria!
    Não é justo especular, não há conhecimento de nada em concreto. E fosse da forma que fosse, há que haver respeito pelas vidas que se perderam! É de lamentar como alguém quer realizar dinheiro pela morte de um filho, é como se vendesse a vida do filho! Como é possível uns pais agirem dessa forma como se a mãe do Angélico (que sofre pela perda do filho) pode ser "responsabilizada" por isso, como ?!?!?

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  2. Boa tarde gata! Gostava apenas de esclarecer um ponto : na reportagem que deu hoje no você na TV (a qual eu segui atentamente) não ficou provado que foi o rebentamento do pneu que levou ao despiste do carro ou se foi o despiste do carro que levou ao rebentamento do pneu até porque as perícias ao local do acidente identificaram 4 marcas de derrapagens dos 4 pneus e não 3 marcas de derrapagens dos 3 pneus + 1 marca da jante. Não estou aqui a colocar culpas em ninguém mas apenas gostava de esclarecer este ponto.

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    1. Olá Ana Rita. Eu não vi a reportagem, é um facto, mas todas as noticias que li, etc, sempre davam como causa do despiste o rebentamento do pneu. As próprias declarações do Hugo Pinto, um dos sobreviventes, também foram sempre nesse sentido desde o inicio, que ouviram um estrondo no carro e que, de seguida, entraram em despiste. Mas se estas mesmas declarações não são verdadeiras...nunca saberemos.

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    2. "É de lamentar como alguém quer realizar dinheiro pela morte de um filho, é como se vendesse a vida do filho!"

      Chamam-se dano não patrimonial em consequência da morte (relativamente ao outro jovem que morreu), é indemnizável e deve sê-lo. Se isto lhe acontecesse, acredite, pensaria de forma diferente.
      E a mãe do Angélico é responsável enquanto herdeira legitimária dos bens dele, apenas e só, não é porque querem ganhar dinheiro "com a morte do filho (dela)". O problema do português, perdoem-me a sinceridade, é não perceber que uma coisa são os nossos sentimentos, outra coisa são os factos e se ele foi responsável tem de ser responsabilizado (por razoes evidentes, não directamente) e o argumento do "só está no carro quem quer" é simplesmente uma falta de argumento.

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  3. Entendo o teu ponto de vista mas aqui umas coisas que gostaria de apontar.
    Realmente não é certo o que provocou o acidente, não há provas de que o pneu tenha rebentado e provocado assim o acidente.
    Não é por ser um BMW que o pneu não iria arrebentar, até porque os pneus podem ser de marca inferior.
    Não é por um carro permitir velocidades superiores a 200 Km que significa que tenha condições para o fazer em segurança.
    A própria estrada pode ter causado o rebentamento do pneu, àquela velocidade, as peritagens marcavam mais de 250 Km, pouco se podia fazer.
    A verdade é que isto de ele ser amante da velocidade para mim é uma grande treta.
    Ele ao conduzir àquela velocidade pós em risco não só a sua vida como a das pessoas que estavam com ele no carro e bem se viu como acabou.
    Ele morreu, mas também levou com ele outras pessoas e a responsabilidade é dele, ele é que ia ao volante, tinha que ter bom senso.
    Não acho que as indemnizações tragam alguém de volta, mas a verdade é que a pessoa em causa ficou com sequelas para a vida, precisa de cuidados e se calhar nunca vai ter uma vida normal, por isso acho normal que exijam uma indemnização, que ao menos lhe paguem os custos hospitalares e os tratamentos.
    E a mãe muito pena tenho dela que perdeu um filho e ainda tem que lidar com estas coisas, mas alguém tem que se responsabilizar pelos actos do filho.
    E isto de culpabilizar o stand também não me parece o mais correto, esta a tentar tirara responsabilidade que é do filho.
    Até porque esta provado que o carro não tinha qualquer tipo de problema.
    E as outras mães que perderam os filhos?
    Só se fala da mãe do angélico porque ele era conhecido.
    As outras famílias também perderam os seus filhos é preciso também ver o lado deles.
    E não me venham com coisas, ele se fosse a uma velocidade normal tudo isto teria sido evitado.
    Eu não consigo pensar como tu gata, para mim ele colocou muita gente em perigo e porque?
    Pela velocidade?
    Já tive uma acidente de carro grave, já fui atropelada por um desgraçado que andava a fazer uma corrida e por acaso não me viu, então para mim isto é uma treta, se existem limites de velocidade são para cumprir e por alguma razão eles existem.
    E termino a dizer que estas reportagens da TVI tendem a ser muito tendenciosos.



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    1. Não consigo concordar, mas opiniões existem para serem dadas. Já perdi familiares em acidentes, infelizmente, e não há dinheiro nenhum que pague uma vida, nisso tens toda a razão. Mas é duro ver uma mãe, seja a pessoa que for, a não conseguir viver a dor em paz (se é possível) perdeu o filho e ainda por cima tem que lutar contra isto. Não acho justo!
      Quanto às velocidades, o estúpido disto é que na hora quem vai no carro vai cheio de adrenalina, e ajuda até o condutor a continuar porque o incentivam, só dão conta do mal quando se dão as tragédias. Eu sou Contra elas, mas culpo condutor e quem lá vai dentro, porque de certa forma compactu.

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    2. Consigo compreender, em parte, o que a Dalila pensa sobre isto.

      Realmente, tendo em conta alguma informação (e todas as declarações de um dos sobreviventes), sempre pensei que estava dada como certa a causa do despiste.

      Um BMW 635 nunca poderá ter pneus inferiores (claro, se as pessoas forem conscientes). Tem de ter uns pneus com qualidade suficiente para responder às capacidades do carro. E se os pneus não eram os adequados, entra o stand que, para mim, tem culpa no cartório sim. Não li nada que referisse que estava provado que o carro estava em bom estado. Sei, sim, que a assinatura do Angélico foi falsificada para mostrar que era o proprietário (isto já é certo). E o facto de terem tido a "preocupação" (para não dizer outra coisa) de falsificar uma assinatura, por si só, já mostra que o stand tem implicações e deve responder por isso.

      Quanto à velocidade, devem contar-se pelos dedos de uma mão os jovens que não apreciam carros e velocidade. Os jovens são assim mesmo, gostam de carros, velocidade, a adrenalina de conduzir um carro potente. E no momento não pensam nas consequências. Infelizmente, é assim mesmo.
      Por acaso, era o Angélico que ia ao volante, mas será que se fosse um dos outros, que se vissem com um carro daqueles na mão, numa auto-estrada, será que iam a 120 km/h?
      Não quero com isto desculpá-lo, apenas quero dizer que, provavelmente, quem ia lá dentro nem estava incomodado com a velocidade, porque um carro daqueles atinge velocidades loucas e nem se sente (no carro). E como o próprio Hugo Pinto disse "iam tranquilos".
      E atenção, até mesmo a velocidades "normais" se têm acidentes e morrem pessoas (às vezes, até parados).

      E é claro que alguém deve responsabilizar-se pelos cuidados que a rapariga precisa (não disse o contrário), isso nem se coloca em causa. Mas...milhões?!

      É normal que só se fale na família do Angélico porque era figura publica. Mas, acho que nunca se desprezou os sentimentos das restantes famílias. Se eu me estampar toda (bate na madeira), também ninguém vai falar disso. É figura publica, é normal.

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    3. Gata, em Tribunal pede-se sempre o dobro ou o triplo daquilo que, de facto, se pretende. é normal. O tribunal nunca dá o que se pede e, por isso mesmo, pede-se a mais. Nunca na vida a rapariga vai obter milhões por danos patrimoniais e danos não patrimoniais. Vai obter a totalidade dos custos dos tratamentos (que é o mínimo) e os danos não patrimoniais relativos ao sofrimento, à dor psíquica, ao facto de a vida dela não voltar a ser a mesma, ao facto de ser uma jovem que viu a sua aparência física absolutamente modificada, etc. E isso, por muito que vos custe perceber, era algo que todos nos quereríamos ver ressarcido se fosse connosco.

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  4. Eu vi a reportagem e, apesar de não se saber o que realmente aconteceu, é muito cruel para esta mãe ter de lidar com tudo isto. É como se todos os dias lhe tocassem na ferida...

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  5. Eu não vi a reportagem, mas tudo aquilo que tu falas é verdade e acredito. Não podemos dar a vida como garantida, um minutos estamos aqui e a seguir...jesus.
    Mas, a minha mãe sempre disse: "Mais vale perder um minuto da vida, do que a vida num minuto", se vale alguma coisa, não sei, mas temos que viver, como dizes, no presente a pensar no futuro.

    Esta mãe, como tantas outras, deveria ter um pouquinho de paz, pois nunca mais vai poder abraçar a preciosidade da sua vida.

    Um beijoca » http://xlittlebitof.blogspot.pt/

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  6. Eu não sou jurista, mas creio que a mãe do Angélico só estará a ser imputada ao caso por ser herdeira dele, ou seja, a ter que se pagar alguma indemnização, só os bens do Angélico que ela herdou poderão ser chamados a esse "pagamento". Penso não estar errada nesta avaliação, mas se estiver alguém que me corrija por favor :).
    Isso não invalida, obviamente, a dor da mãe do Angélico ao ter que lidar com tudo isto, assim como não invalida a dor dos pais da rapariga que nunca mais terá uma vida normal....

    Sem Jeito Nenhum Blog

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  7. Eu acho que realmente, no meio do caos, não sei o que terá sido pior: ter perdido o filho ou ter que ter vivido os dias seguintes com capas e mais capas, reportagens e afins, sobre as verdades, mentiras, blasfémias, calúnias, o disse-que-disse e o disse-que-não-disse sobre o seu filho (que já nem cá estava para se defender).
    Dias esses que certamente deveriam ter sido unicamente para luto da senhora, de tentar encontrar alguma paz, a fim de apaziguar de alguma forma a sua dor.
    Digo eu!

    1beijo,
    http://umblogsoparamim.blogspot.pt/

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  8. « se fosse feliz da vida à velocidade que o carro permitia»

    Não vou formular uma opinião sobre o assunto, não conheço o caso e os pormenores o suficiente para tecer juízos.
    Mas tenho de comentar aquela afirmação da Gata.
    Não importa a velocidade que os carros permitam, o que deve importar é a velocidade que a lei permite. Ninguém deveria seguir feliz da vida a abusar da velocidade só porque o carro permite, colocando em risco a sua vida e a dos outros.

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    1. O "feliz da vida" foi no sentido dos jovens gostarem todos de velocidade e bons carros.

      Tocou num aspecto importante e que já dei comigo a perguntar algumas vezes: se a lei só permite como velocidade máxima 120 km/h, porque é que os carros não são feitos de acordo com esse limite de velocidade? Tipo, carros que não passam dos 120 km/h. Eu sei, é inocente da minha parte, mas não deixa de ter a sua lógica (e o problema ficava resolvido logo de inicio).

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    2. Eu creio que os carros não são feitos com um limite de velocidade à partida, porque nem todos os países se regem pelos mesmos limites de velocidade. Na Alemanha, se não estou enganada, existem alguns troços de autoestrada em que não é imposto nenhum limite de velocidade (não é em todas, mas em alguns troços) e se pode "colar" o ponteiro até ao final...
      Nesse sentido, creio que será esse um dos motivos que levarão as marcas a não personalizar os carros a esse nível...
      Claro que ao nível do marketing também não lhes há-de interessar muito.

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    3. Isso é uma generalização. Eu compreendo o que dizes, mas nem todos os jovens gostam assim tanto de velocidade. Fica-se com a impressão que os jovens são todos irresponsáveis.

      Isso do limite nos carros, responderia o mesmo que a Cê.

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  9. Obviamente que não podemos imaginar aquilo pelo qual a mãe do Angélico está a passar e claro que nunca ninguém no mundo deveria saber o que é perder um filho. Mas sinceramente dá-me nojo quando as pessoas têm a coragem de dizer "O pessoal jovem é assim, gosta de carros e velocidade". Não, o pessoal jovem não tem que ser assim. Gostam de velocidade vão para uma pista própria para isso onde não correm o risco de magoar ninguém. Que raio interessa se o carro dá 100 ou 200 km/h? É que nem interessa se a pessoas não se preocupa com os outros. É proibido por lei. Ponto.
    Neste caso só me choca o empenho com que as pessoas estão a tentar arranjar justificações para o que aconteceu, como é o caso do pneu que saltou. 200km/h pessoas. Não há milagres. Podemos ter mil e uma razões para estar com pressa mas este caso só demonstra que isso não interessa nada. Nada do que tenhamos para fazer vale a nossa vida. Quanto aos que ião no carro, sinceramente, parecem-me tão culpados quando ele. E é verdade que é ridículo aquilo que estão a pedir à mãe.

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    1. Eu não disse que "TEM de ser assim". Disse que "é assim". São coisas totalmente diferentes. Até disse mais "...e no momento não pensam nas consequências. Infelizmente, é assim mesmo".

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    2. Sim, eu sei Gata. Não estava a falar em específico daquilo que disseste, até porque em grande parte concordo contigo. No meio disto tudo o pior é mesmo aquilo que estão a pedir à mãe e, especialmente, o tempo que isto tudo está a demorar. O acidente foi há 4 anos e ainda nada ficou decidido. A última coisa que alguém que perde um filho precisa é de ser relembrado todos os dias em tribunal o que aconteceu.

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  10. Eu só acho que seja em que circustâncias for não se deve ir a mais de 200 km/h. É uma irresponsabilidade de todo o tamanho. É claro que podiam ir a 100 km/h e acontecer o mesmo, mas nunca se sabe. Se podemos remediar, porque não fazê-lo? Mas agora já está, não há muito a fazer. E isso é muito triste.

    http://entreosmeusdias.blogspot.pt

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