Fourth round: O Caso Spotlight

Este é daqueles em que a história por si só faz o filme. Mal vi o trailer numa das idas ao cinema disse logo "temos de ver este filme". Não propriamente pelo realizador, não pelos actores, não pela qualidade das imagens passadas no trailer, mas pelo tema baseado em factos reais: casos de pedofilia na Igreja Católica.

Acho que qualquer católico - praticante e não praticante - fica com vontade de ver o filme. E, de facto, a sala estava praticamente cheia e viam-se algumas pessoas de idade mais avançada, coisa não muito comum, pelo menos tendo em conta as minhas anteriores idas ao cinema.

Muito resumidamente (e sem dar uma de spoiler), Spotlight é uma equipa de jornalistas de investigação do jornal Boston Globe e em 2001 vêem-se a braços com o caso mais polémico e tenebroso que podiam ter: vários padres da Igreja Católica são acusados de abusos sexuais a crianças. É este o ponto de partida do filme e toda a investigação não deixa margem para dúvidas e mostra bem os podres tanto a nível religioso como a nível politico.

É um filme forte, que nos deixa completamente perplexos e com uma certa raiva a remoer cá dentro, ao mesmo tempo que levanta muitas questões. Afinal, que Igreja vem a ser esta? Uma Igreja que proclama a palavra de Deus aos sete ventos capaz de cometer crimes horrendos e de os encobrir como se nada fosse. Um Igreja que se mostra superior a tudo, até à própria justiça, dá medo.

Num mundo onde católicos praticantes estão sempre prontos a questionar a fé dos não praticantes, como se ir à missa todos os domingos fosse sinónimo de fé, dá para pensar. Para mim, a fé desenvolve-se a várias dimensões e não vou ser mais católica só por ir à missa. Se calhar muitos dos que vão são bem mais pecadores do que os que não vão regularmente. Se calhar até o próprio padre que preside a missa é uma grande besta. Não sabemos. Porque é tão mau que até custa desconfiar. Mas num mundo que vive de aparências o ir à missa é sempre o mais bonito. Com fé ou não, com boas ou más intenções é o que fica bem na fotografia.

Não me parece que seja o tipo de filme para vencer um Oscar, mas sem dúvida que é daqueles filmes a não perder e que sensibiliza.