#

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A minha visão da praxe

Desde a tragédia no Meco que muito se tem falado acerca da praxe. Há quem a defenda, há quem a condene. Como em tudo na vida, aliás. Uns gostam disto, outros não. Uns gostam daquilo, outros não. Trata-se de um assunto extremamente sensível e muito pouco consensual.

E indo directamente ao assunto: há abusos? Há, claro que há. Pessoas que nunca serão nada na vida (provavelmente) aproveitam-se do titulo de "Doutores" para serem "grandes" e se mostrarem superiores alguma vez na vida, cometendo excessos e ultrapassando todos os limites do tolerável. No entanto, acho que não devemos ser tão radicais ao ponto de sugerir que a praxe seja eliminada do sistema de ensino ou, até, que seja ilegalizada. Cada caso é um caso, não devemos generalizar determinada situação, e uns não devem pagar pelos outros. É verdade que muitas vezes paga o justo pelo pecador, mas aqui não. Na praxe não tem de ser assim.

E digo mais. Eu não consigo dissociar o ensino superior da praxe. Para mim, a praxe é parte integrante de quem segue a sua vida académica. A praxe é tradição, é. Mas consegue ser mais que isso, também é sentimento. Lembro-me das lágrimas que me caíram dos olhos no meu primeiro dia trajada, na minha primeira serenata. Foi o culminar de um excelente ano como caloira.

A praxe, na sua verdadeira essência, não pode ser prejudicada pela falta de bom senso de quem se usa dela e pelas brincadeiras de mau gosto. No máximo, que seja aplicada uma regra qualquer que impeça os ditos abusos, e para que o injuriado se sinta seguro e na livre vontade para denunciar. Porque essa do "só é praxado quem quer" não é assim tão linear, e acredito que os mais frágeis se sintam intimidados em negar o que consideram abuso. Regras, sim. Extinguir/ilegalizar, não.

São vários os argumentos daqueles que tentam salvar a imagem da praxe. Há quem defenda que a praxe e a tão falada "humilhação", prepara para a vida. Não sou totalmente contra este argumento. A verdade, é que na vida muitas vezes somos sujeitos a determinadas humilhações e somos obrigados a engolir "sapos", ou para manter empregos, ou para não sofrer represálias, ou para isto, ou para aquilo. É certo que uns são mais sensíveis que outros e ficam muito ofendidos ao mínimo berro. Mas a vida não é fácil e é preciso ser-se forte. "Dura praxis, sed praxis"? A vida também o é. Por isso digo. Quem fica melindrado com um simples berro ou má cara (e tudo mero simbolismo), não está preparado para os obstáculos da vida.
Há quem diga, e muito bem, que a praxe é integração. E é. Mas claro, há praxes e praxes. E se para uns, integrar é andar com orelhas de burro, a chafurdar na lama, andar de caras pintadas e chamar nomes (fico-me por aqui)...para outros, não é nada disso. A minha praxe, por exemplo, proporcionou passeios de barco no rio Douro. Proporcionou visita às caves de Gaia. Proporcionou uma excelente tardada no Parque da Cidade. Proporcionou inúmeras actividades que hoje deixam uma saudade enorme e um sorriso de orelha-a-orelha por tudo o que foi vivido graças à praxe.
Estou aqui a lembrar-me de uma recente publicação no facebook de uma colega minha, onde, e a propósito de toda esta polémica, diz qualquer coisa do género: "...Parece que virou moda colocar fotos do que recordamos da praxe que vivemos. Deixo-vos aqui o fruto da minha. Ahhhh... Mas da parte boa não interessa falar nestas alturas pois nao?!? Enfim.". A foto era da sua filha. Fruto do seu amor com uma pessoa que conheceu, precisamente, na praxe. Pessoa essa que veio a ter um papel muito importante na praxe, Exmo. Digníssimo Sr. Dr. Colher de Pau, e de quem mantenho uma admiração enorme pela sua vida, pelo modo com que se dedicou à praxe sem deixar nada para trás, e pelos bons momentos académicos que proporcionou. Pessoa que me praxou, e mesmo quando eu já estava do lado dele a praxar, eu mantinha de tal maneira o respeito que me incutiu enquanto caloira, que no inicio sentia-me envergonhada em manter relações mais próximas. Sim, a praxe também ensina a respeitar. Mas isso, ninguém vai entender, principalmente aqueles que condenam a praxe e têm uma imagem muito negativa da mesma. Provavelmente vão rir à gargalhada ao ler o que escrevi. Mas se passar por aqui alguém que tenha estudado no mesmo sitio que eu, ou que também tenha um bom sentimento em relação à praxe a que foi sujeita, sei que vai perceber letra por letra, tudo o que aqui escrevi. 

Mas lá está. Uns têm boas recordações e defendem a praxe. Outros, tiveram más experiências e condenam-na. Ponham no prato da balança uns e outros, e vejam qual lado pesa mais. Acredito que os que têm boas recordações e defendem a praxe serão a maioria. Eu acredito. E é por isso mesmo que defendo que não se deve tomar um caso como um todo. É por isso que digo não à extinção/ilegalização da praxe, e digo sim à criação de regras e de penalizações para quem ultrapassa os limites.
Mas esta é só a minha opinião. A opinião de quem foi praxada e não tem qualquer aspecto negativo a apontar, muito pelo contrário.

24-09-2013 15-51-22

17 comentários:

  1. Concordo contigo em tudo, Gata. Talvez porque fui praxada no mesmo sítio que tu (Porto) e também fui às caves e ainda de barco. E fiz Peddy-paper pela cidade também! :) Digo sem a menor dúvida que o meu melhor ano na faculdade foi o de caloira. Tenho pena de quem não possa viver a praxe como eu a vivi!
    R.

    ResponderEliminar
  2. Ora cá está mais uma que adorou as praxes! UP sempre!

    ResponderEliminar
  3. Concordo completamente com o que dizes, eu tive um ano de caloira fantástico !

    ResponderEliminar
  4. Não podia concordar mais contigo. Adorei as minhas praxes, adorei ser caloira, diverti-me imenso e conheci muita gente. Foi fantástico. :)
    beijinho

    ResponderEliminar
  5. eu não gostei das praxes da minha faculdade, não se fazia mais nada do que ser olhar para o chão e eles a chamarem-nos nomes aos ouvidos. houve mesmo gente que chorou, isso para mim não se faz! eu sou a favor das praxes mas pelas decentes. é claro que há praxes muito fixes mas há outras que não. tem é que se punir quem torna aquilo num enxovalhamento.

    ResponderEliminar
  6. Eu gostei imenso da tua opinião! eu ainda não fui para a faculdade, mas quando for quero poder estar na praxe.
    Há praxes e praxes, não são todas iguais e não deveria generalizar o problema que acontece em certas universidades, que levam o nome praxe ao limite

    ResponderEliminar
  7. Concordo!!

    xoxo
    http://estilohedonico.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  8. Adorei este post
    Concordo com o que disseste.
    Beijinhos

    uglyfashionexperience.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  9. Concordo plenamente contigo! sou caloira e pretendo ir até ao fim :)
    beijinhos <3

    nanasecretportugal.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  10. Eu não fui praxada porque me recusei e tenho noção que se não tivese ficado a estudar na cidade onde nasci teria passado mal por causa dessa decisão. As praxes na minha universidade não passam de levar os caloiros para um parque, obrigá-los a não falar durante o tempo todo, berrar com eles como se fossem animais de carga e sujá-los de cima a baixo. Por me recusar a pasar por isto tive pessoas a ignorarem-me o ano inteiro e a fazerem de tudo para que a vida académica me corresse o pior possível. Estas mesmas pessoas andam a dizer por aí que só vai à praxe quem quer e que não há consequências para quem não vai. Ironicamente, estas pessoas acabaram por reprovar dois ou três anos e acabaram a ter aulas comigo e a precisar de mim (apontamentos, etc.) para conseguirem fazer as cadeiras.
    O grande problema das praxes é que quem é contra muitas vezes acaba por ir na mesma pois como está numa cidade onde não conhece ninguém sente-se muito sozinho e tem medo de ser excluído. Isto faz com que o problema seja difícil de resolver pois as próprias pessoas que passam mal não têm coragem de se queixar. Cheguei a ter um colega a perguntar-me o nome de um antibiótico para arranjar uma desculpa para não beber nos jantares de curso pois no primeiro a que ele foi só faltou prenderem-no à cadeira e enfiarem-lhe o copo pela garganta abaixo. E ele deixou, porque até nos jantares de curso os caloiros estavam a ser praxados.
    Não digo que acabem com as praxes, quem quer ir tem o direito de o fazer. Mas é preciso fazer alguma coisa urgentemente, porque o nível a que chegámos já não é normal.

    ResponderEliminar
  11. «A minha praxe, por exemplo, proporcionou passeios de barco no rio Douro. Proporcionou visita às caves de Gaia». A minha também. Além de na semana de receção ter tido a oportunidade de fazer um peddy-paper pela cidade. E tantas outras atividades que nunca me hei-de esquecer.
    Cada um ter direito à sua opinião, mas não nos queiram obrigar a concordar que toda a praxe é mal feita. Porque não é. Todos nós somos capazes de reconhecer que há abusos, infelizmente, precisamente porque há quem use o traje como desculpa para fazer tudo aquilo que quiser. Mas isso não é culpa da praxe. É culpa da falta de caráter das pessoas.
    Quarta-feira tive a oportunidade de visitar o Museu do Porto e ver o jogo no Dragão por causa da praxe. Já vi uma crítica a dizer que «se a praxe na ESE é isto ainda bem que desisti» (ou qualquer coisa do género), mas não me faz qualquer tipo de confusão isto. Como portista, claro que fiquei radiante com a oportunidade, mas não fomos só portista à atividade. Porque a praxe é mesmo integração e momentos bem passados.
    Falam muito mal da praxe, mas as bocas que nós ouvimos na rua foram claras faltas de educação. Afinal, não é a praxe que deixa as pessoas mal educadas, porque ouvir policias a passar por nós a dizer «não vão para o mar à noite, é perigoso, não obedecam a esses ignorantes», para mim, é ridículo

    Beijinhos*

    ResponderEliminar
  12. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar
  13. Concordo plenamente com as tuas palavras *
    Comigo aconteceu o mesmo, pelos belos anos que passei em Coimbra!
    Saudades

    ResponderEliminar