Não, não sou feliz todos os dias e a toda a hora.

Não sei se haverá alguém que o seja, mas em caso afirmativo que se sinta uma espécie rara digna de museu. Eu não sou feliz todos os dias. Sou muitas e vastas vezes, mas não todos os dias ou a toda a hora. Ás vezes, não me sinto feliz e nem sei muito bem porquê. Não que sofra de uma espécie de hipocondria na vertente infelicidade, tipo ter a mania que estou triste. Mas talvez sejam as amarguras da vida que, volta e meia, invadem-me e deixam-me mais apagada, mais cabisbaixa.
Há dias em que é fácil dizer um "está tudo bem" quando nos perguntam "então, como estás?", só para evitar dar ali um sermão e missa cantada sobre todos as coisas que me apoquentam a alma. Mas há outros, em que só me apetece desmanchar em lágrimas, vomitar a alma e explodir com o primeiro que se atrever a fazer a dita pergunta. Na verdade, há dias em que só quero que me deixem quieta, no meu canto, e que não me façam perguntas. Gosto de poder estar triste, com um humor de fugir, sem ter de dar explicações para tal, sem ter de mexer no que me magoa. Gosto de guardar para mim, gosto de ficar sossegada e esperar que passe, sem ter ninguém a atazanar-me o cérebro com o "e o que é tens?", "mas porque é que estás assim?", "não tens motivos para estar assim...", e por aí. Gosto, sobretudo, que respeitem esta minha forma de estar em relação aos meus momentos mais out, mais enfadonhos.
E se há coisa que me mexe com os nervos e que odeio profundamente é o "não tens motivos para estar assim". Ahhhh se m'enerva!! Tal comentário despropositado só me leva a questionar: "será que somos obrigados a andar sempre felizes da vida e de sorriso estampado nas fuças?", "será que está institucionalizado e não me avisaram?!". Cada um sabe de si, e tenho dito. E evitem minimizar/desprezar a tristeza alheia, é preferível o silêncio.