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domingo, 6 de novembro de 2016

"O que não te desafia não te muda"


Só tinha feito um trail na vida e apesar dos 17 quilómetros era pouco técnico e tinha muita área plana. Habituada apenas a estrada ainda consegui fazer três treinos no mato antes da prova para não ir completamente às escuras e a coisa fez-se. Resumindo: a minha experiência em trail não sendo zero, é 0,1.

Posto isto, a minha primeira reacção ao convite para participar num xtrail de 12 quilómetros, com 600 metros de acumulado (seis-cen-tos!!), onde alertavam para um percurso baseado em dureza foi um redondo NÃO. Aliás, a minha reacção a tudo o que mete sair da zona de conforto é sempre a mesma: não, não e NÃO.

Não por achar que não tenho capacidades, mas por ter noção que não treino para enfrentar algo assim tão exigente e tão técnico. Para além de ser uma principiante, não corria há um mês, pelo que tinha noção que se fosse o mais provável seria parar a meio, cruzar os braços e bater o pé no chão até que me viessem buscar de carro, de mota, de carroça, de parapente, tuuuudo menos dar mais um passo. Mas fui. Porque apesar de entrar sempre em negação, facilmente sou convencida. O "bichinho" pegou, nada a fazer.

Fui mentalizada para o pior, mas, senhores, eu estava loooooonge de saber o que era o pior. Depressa percebi que esperavam-me 12 quilómetros duríssimos, os piores de todo o sempre, com as subidas e descidas maiores e mais acentuadas que alguma vez vi. Eram muito poucas as zonas do percurso em que dava para correr, de tão acidentado que era. Vocês não estão bem a ver o filme. Era assustador de ver, quanto mais de fazer. Sempre que tirava os olhos do chão, olhava em frente e via que a subida mal ia a meio...BAAAAHHHHHH tirem-me daaaaquiiiiiiiiiiiii!! A sério, senti-me à beira de falecer umas vinte e sete vezes. Quando chamavam por mim "aaaaanda Bruna" eu só resmungava "eu não vim aqui para partir a cremalheira tooooodaaaa". Sim, para além de ir a resmungar o percurso todo também ia a rezar para chegar ao fim com os dentinhos todos. Estava sujeita, para além de não ter prática, as sapatilhas não eram as mais apropriadas. Escorreguei umas três ou quatro vezes e uma delas fui mesmo com o rabo ao chão e melhor, espetei com a mão esquerda nas silvas. Que espectáculo, hã!

Foi uma experiência de quase morte, foi o que foi. Estava derretida de tanto subir, subir, subir, e como quem sobe também desce, também estava moída de descer, descer e descer, e fartinha de pedras e pedragulhos, fartinha de galhos, ai, sinto suores só de lembrar. Doía-me tudo, especialmente os tornozelos, e até câimbras tive já no fim.

Terminar foi como encontrar uma Coca-Cola no deserto. Já sabia que era o "carro-vassoura", mas quando reparei no tempo que levei para fazer 12 quilómetros (2h30) pensei "és uma miséria Bruna Filipa". Mas depois pensei melhor. Mesmo consciente das minhas limitações e alertada para a dureza do percurso, eu fui. Tive a coragem de ir e mesmo com oportunidade de fazer corta-mato não o fiz. Comecei tinha de acabar. Independentemente de tempos de prova, acho que vale muito mais a atitude, a motivação e a força de vontade. Podia ter ficado em casa e até tinha mil e uma coisas para fazer ou até podia não fazer nada e ficar a vegetar no sofá, mas não, lancei-me às "feras". E apesar do meu humor de ratazana ao longo do percurso, valeu a experiência e fico grata por mais um desafio.

Outra sova destas? Sim, mas devidamente treinada e calçada. :D

11 comentários:

  1. Parabéns Gata :)
    Sair da zona de conforto é sempre uma vitória!

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  2. Oh rapariga, só de te ler já fiquei cansada! Ahaha
    Mas esse é o espirito, parabéns!! Cheira-me que ainda vamos ouvir falar muito de trails por aqui.. :)
    Beijinhos e boa semana
    Laura Neves

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  3. Conseguiste completar e sair da tua zona de conforto e, só por isso, já estás de parabéns!

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  4. O que importa é desafiares te...e vais ver que cada um que fizeres o gosto é diferente e melhor, é mais duro sim muito mais que correr na estrada, mas o que não nos mata fortalece.
    Toca a voltar e toca a ter umas sapatilhas proprias para trail, e vais ver que nas descidas relaxas e voas, melhor sensação não há.

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  5. Parabéns por teres ido e de certeza que deves estar orgulhosa de ti!
    Eu só gostava de correr 10km, criei um blogue para ser mais feliz e a felicidade passa por concretizar sonhos/desejos e por sair da zona de conforto, como tu fizeste!
    E toda a gente que faz trails diz que depois é sempre a somar... Por isso já sei que daqui a pouco vais contar-nos que foste a mais trails ;)

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  6. Tenho muita curiosidade em fazer um trail, confesso! ;)
    Beijinho
    Cris

    www.lima-limao.pt

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  7. Olá Bruna
    Isso foi em Belazaima, certo? Se for o que eu fiz, é de facto puxadito...

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    1. Olá Gualter.
      Sim, foi em Belazaima. O percurso não foi o mesmo do Bela Bela, mas tbm não te sei dizer se foi pior ou melhor. Só sei que é do infeeeerno!!

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  8. O teu espírito de sacrifício é incrivel e fico muito feliz por teres alcançado o teu objectivo. Na minha terrinha (ilha da Madeira) costumam fazer trails assim em sítios com vistas fabulásticas!
    Por onde anda a Sofia?

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  9. Ai gata ao ler "revi-me". No meu primeiro trail fui completamente ás cegas, sem preparação e sem noção do que me esperava. Foram 15 km muito muito muito duros, para teres noção demorei 4h! Todo ele era feito de inclinação, as subidas mais pareciam montanhas para serem escaladas e as descidas um pé em falso e rebolavas (chegavam mais cedo ao fim).
    Hoje ando sempre com "aquele" bicho e á espreita deles para me inscrever :)

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  10. Vais ver que qualquer dia não queres outra coisa e estás a fazer mais de 20 kms e com mil e tal de acumulado.
    Eu neste momento já acho que correr na estrada é uma seca. É duríssimo, mas acedes a paisagens que nunca verias doutra forma.
    Força!

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