#

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Vivos que vivem dos mortos *

* post impróprio para pessoas sensíveis.

Assim de repente, sou capaz de vos ter dado um nó cego ao cérebro, mas calma que eu já explico. Com o titulo acima pretendo referir-me às pessoas cujo trabalho depende daqueles que falecem, aquelas pessoas que vivem da morte dos outros, por assim dizer. Sim, falo das pessoas que têm ou trabalham em agências funerárias. E digo, não deve haver nada de mais apavorante do que ter de lidar com mortos todos os santos dias. Ou será que não? Será que já se sentem tão habituados ao cenário que já lidam com mortos da mesma forma que o matadouro lida com porcos (não foi uma comparação feliz eu sei)?
Dei comigo a pensar nisto enquanto comia qualquer coisa no estacionamento do hospital (é sempre giro pensar nestas coisas enquanto se come), depois de ter ido fazer análises de rotina, ao mesmo tempo que observava dois indivíduos a saírem da casa mortuária de luvas brancas e de malas pequenas em metal. Voltaram a entrar e apareceram de novo já com o caixão em mãos para colocarem dentro da carrinha funerária. Provavelmente estiveram a tratar do(a) falecido(a), vesti-lo(a), colocar aqueles produtos estranhos e a compor o corpo com gazes e afins (se fosse caso disso). E tudo isto arrepia-me o pêlo de cima abaixo, chega mesmo a dar-me tremeliques só de imaginar. Devo dizer que quem faz este tipo de serviços tem de os ter bem lá no sitio (se é que m'entendem). Quando são mortes naturais ainda vá que não vá, mas quando se tratam de mortes por acidente de carro, por exemplo, cujo o corpo fica super maltratado, por vezes irreconhecível até, eu pergunto-me como é que estes senhores conseguem ter estômago para lidar com uma situação destas. Ver já é mau, ter de mexer... BLHAAAACK!!
Todos nós falamos de gestores, advogados, enfermeiros, médicos, o que seja, tudo pessoas imprescindíveis à sociedade, o que era de nós sem elas, mas alguém já deu o devido valor aos senhores das funerárias? Já pensaram se não houvesse vivalma com eles no sitio capaz de tratar dos mortos? O que seria deste mundo? Dos nossos entes queridos?! Da mesma forma que há aterros do lixo, muito provavelmente, teria de haver aterros para pessoas falecidas do tipo "olhe faleceu, meta num saquinho e leve para o aterro mais próximo faxabor". CREEEEDO, que imagem do inferno.
Enfim... Dei comigo a pensar nisto, naqueles que ganham a vida com a morte, e a agradecer profundamente o facto de existirem pessoas com eles no sitio que se sentem completamente à vontade para lidar com este tipo de trabalhos, que é como quem diz, com mortos (sim, por vezes penso em coisas que não lembram a ninguém).

24-09-2013 15-51-22

13 comentários:

  1. que post interessante -.-

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Este dá 10 a 0 ao post do ginecologista.

      Eliminar
    2. Ó santos anónimos, vocês sim são do mais desinteressante que há! O que é que cá vêem cheirar?? Deixem a moça sossegada, se não gostam não comam, desopilem, não chaguem, vão criar os vossos bloguesinhos de coisas interessantes, super interessantes e na moda e tudo e tudo e tudo. Que coisa repetitiva... livra!! Eh pá, é que fazem uma pessoa sossegadita como eu, que até nem liga nada a isto, vir práqui comentar! Margarida Coutinho, ao vosso dispor... salvo seja.

      Eliminar
  2. É bem verdade. Às vezes esquecemos-nos de certas profissões sem as quais seria impossível viver. Não lhes damos o devido valor. Talvez, a certa altura, acabem por se habituar. Mas deve haver casos em que, só de ver, também devem ficar com pele de galinha... Não sei, digo eu.

    Vanessa S.
    De Saltos por Lisboa,
    desaltosporlisboa.blogspot.pt

    ResponderEliminar
  3. este blog começa a saturar, e olha que sou daquelas que está sempre a favor.

    ResponderEliminar
  4. Não vejo tanto por essa forma. Vejo mais como uma profissão escolhida como qualquer outra, se é preciso ter muita coragem? Sim é! e eu não a teria. Acredito que não amem a profissão, mas sim a rentabilidade dela. E com o passar do tempo, a experiencia alarga-se e já estão "habituados". Na questão que falas de estarem em mau estado devido a acidentes, penso ser bem pior a posição dos bombeiros socorristas...
    Hoje iniciei o meu blog, se poderes passa no meu cantinho, serás bem vinda !

    ResponderEliminar
  5. A minha avó tem uma agência funerária. Habituei-me a conviver com isso desde sempre, e não é nada assim de tão extraordinário. Se o corpo estiver em muito mau estado, a agência nem mexe; trata apenas do funeral. A parte difícil, onde é preciso ter muito mais que estômago, sensibilidade, é dar apoio à família e proporcionar um funeral o mais digno possível à pessoa. O resto, e repetindo o que ouço a minha avó dizer desde sempre, "quem nos faz mal, são os vivos!".
    Beijinho*

    ResponderEliminar
  6. Do que tu te foste lembrar, mulher!
    É verdade que é uma profissão que exige alguma coragem, mas... E todas aquelas que antecedem a morte? Médicos, auxiliares, enfermeiros, psicólogos e todos que trabalham em cuidados paliativos, cuidando e prestando os melhores cuidados aos moribundos, esses sim, merecem sempre o nosso apreço e admiração.
    No entanto, e voltando à temática do agente funerário, não é uma profissão que me choque. Defendo até que, antes da coragem e estofo que mencionas, é preciso vocação, sensibilidade, tacto, empatia e, acima de tudo, seriedade. É fácil aproveitarem-se de vivos, já pensaste o quão mais fácil é fazê-lo com um defunto e a sua fragilizada família? A meu ver, é n vezes pior fazê-lo a quem não se pode defender - e por vezes, por ignorância não tem quem defenda - do que aos vivos.
    Em suma, é preciso tê-los no sítio sim, mas aos outros dois também: o coração e o cérebro, preferencialmente, ambos em boas condições de funcionamento. ;-)

    ResponderEliminar
  7. Tu lembraste de cada uma ehehehe bem visto!
    Beijinhos***

    ResponderEliminar
  8. Que post inteligentíssimo!! Um poço de sabedoria e humor...

    ResponderEliminar
  9. Há uma maquilhadora que está 'bem na vida' ... é maquilhadora de mortos... dá que pensar não?

    Sónia
    www.tarasemanias.pt

    ResponderEliminar
  10. Todas as profissões tem o seu 'd' de difícil.
    A agência funerária tem várias pessoas, a que trata do corpo a que trata da papelada, a que trata dos preparativos de decor e etc. É difícil vestir um morto, maquilhar um morto, etc, mas as pessoas são seres de hábitos, e muitas das agências que conheço, se não todas mesmo, passam de pais para filhos, ou seja, eles já nasceram naquele ambiente. Conheço várias e posso dizer-te que são pessoas normais, felizes, mas com problemas como nós.
    Por outro lado, a mim, mete-me mais impressão o pessoal do hospital, que os tenta salvar, que os vê a morrer e não podem fazer nada, e depois ainda têm que aturar os familiares ... Acho que isso sim é mais difícil.
    Mas aqui está um bom tema de discussão :)

    ResponderEliminar